Eu já tentei escrever sobre esse assunto várias vezes. É tão delicado falar sobre privacidade numa plataforma pública; chega a parecer hipócrita. Mas a verdade é que não é. E hoje, depois de ter acompanhado um pouco do que a Klara Castanho passou nos últimos tempos, sinto que algo precisa ser dito por mim.
Aqui na minha casa, meus pais sempre ensinaram meu irmão e eu sobre o valor da privacidade; nós crescemos escutando histórias e ensinamentos sobre o assunto, e sempre fomos incentivados a valorizar isso. Ainda, eles sempre nos explicaram sobre a fama de uma maneira um pouco diferente do que vejo por aí: nunca fomos incentivados a idolatrar pessoas famosas, ou cair na falsa impressão de que são perfeitos e superiores aos “meros mortais”. Então, para mim, nunca foi sobre a pessoa, mas sim o que ela fazia (excluindo o caso do Justin Bieber, com que idealizei meu casamento durante toda a pré-adolescência).
Quando me deparo com a situação de Klara, logo lembro de tantas outras pessoas que também tiveram problemas gravíssimos pela falta de conhecimento do público geral e seu julgamento irracional. Klara é uma menina que passou por traumas que muitos jamais entenderão. Na verdade, infelizmente muitas mulheres entendem muito bem o que Klara está vivendo, e eu DÚVIDO que essas fariam qualquer tipo de julgamento sobre a situação. Já os que nunca passaram ou passarão por isso ou algo parecido, não deveriam falar nada; discurso livre não serve para atacar alguém por uma história privada que vazou na internet.
Eu não consigo entender o que passa na cabeça de alguém que cancela, julga, detona (use o termo que mais lhe agrade) o outro na internet… ou até presencialmente. Não entendo mesmo. Toda história tem muitas versões, e muitas vezes até as pessoas envolvidas não sabem direito o que aconteceu, quem dirá os alheios que se baseiam puramente nas informações de sites de fofoca.
PARA VOCÊ, QUE TOMA ATITUDES DESPREZÍVEIS COMO ESSAS, EU PERGUNTO: Quem te deu o direito de sequer opinar na vida do outro, quanto mais cancelar alguém? QUEM É VOCÊ NA FILA DO PÃO PARA SE ACHAR TÃO BOM AO PONTO DE CANCELAR ALGUÉM?? Quem te fez dono do mundo? Quem te disse que você é dono da verdade? Quem foi que pediu sua opinião? Como você pode ser tão cruel? – Eu entendo que você deve ser uma pessoa extremamente triste, insegura e traumatizada MAS NADA JUSTIFICA A CRUELDADE PARA COM O PRÓXIMO. Todo mundo tem traumas, fantasmas do passado, inseguranças… não se ache especial por isso. Cada um lida com o que tem, SEM JOGAR PRO OUTRO A DOR QUE LHE PERTENCE.
E não me entenda mal: eu acredito que se for de maneira passífica e respeitosa, todos nós podemos opinar (mesmo tendo um posicionamento errado ou burro), afinal, assim é a vida, existem pessoas que pensam de maneiras diferentes, pessoas inconvenientes, pessoas erradas; nós precisamos aprender a lidar com isso. O meu problema é com aqueles que cancelam as pessoas sem dar a elas uma chance de explicação, redenção; ou, como no caso de Klara, com pessoas que fazem comentários absurdos sobre decisões pessoais tomadas por pessoas que não têm relação nenhuma com elas.
As pessoas precisam parar de acreditar – URGENTEMENTE – nas ideias de que “se a pessoa é famosa, ela tem que aceitar o ódio alheio” E “pessoas públicas devem satisfação ao público”. Gente… de onde saiu essas idiotices? Isso não existe!!! Todo mundo tem o direito de ter uma vida privada, sem estranhos que nem te conhecem enchendo o saco. A PRIVACIDADE É UM DIREITO HUMANO. Eu já escutei muitas justificativas para esse tipo de comportamento, e muitas delas se encontram na mesma idéia de que “o público não faz por mal, já que se sente íntimo da pessoa pública”… mas também, como uma personagem icônica no mundo virtual já disse, eu apenas repito: esse comportamento “É DE UMA IMBECILIDADE ATROZ”. Hello né, gente?!?! A pessoa que você vê na tela do celular NÃO TE CONHECE. Você pode até achar que conhece ela (apesar de já sabermos que a vida mostrada na internet não é real), mas ela DEFINITIVAMENTE NÃO TE CONHECE. Essa percepção de que “se a pessoa postou uma foto do parceiro nas redes sociais então agora deve compartilhar cada detalhe do relacionamento” é completamente descabida; cada um posta o que quer, explica o que quer, compartilha o que quer – vai de cada um ter a noção de entender que nada é como parece (ou nesse caso, como é postado) e tratar o próximo com decência.
Além de estar brava com a massa de haters que precisa fazer terapia desde ontem, também gostaria de expressar meu repúdio aos jornalistas e à mídia no geral, que usaram dessa história para fazer dinheiro. Eu sou a primeira pessoa a defender o direito de cada um trabalhar, fazer o próprio dinheiro, e viver a própria vida; mas nesse caso, isso não se aplica. Mais uma vez: PRIVACIDADE É UM DIREITO HUMANO. Como alguém tem coragem de expor uma história como essa? Como é possível ignorar completamente as pessoas que serão afetadas eternamente por tudo isso EM TROCA DE DINHEIRO, FAMA? Nós não estamos falando sobre expor o estuprador; estamos falando sobre possivelmente expor a identidade da criança, fruto dessa violência. Além de Klara, a criança que ela pariu será afetada por tudo isso, e a família que a adotou também. São pessoas inocentes, que não têm nenhuma relação direta com o crime. Que tem o direito à privacidade e à paz, de um novo começo. É tão simples: se coloque no lugar dessa criança; como você se sentiria ao saber que é fruto de estupro e trauma público para sua mãe biológica.
Ainda, minha revolta se estende aos profissionais de saúde que deveriam ter protegido Klara, a criança e os demais envolvidos no caso. Como é possível que uma menina receba ameaças da própria enfermeira? Como é possível que um médico não faça o mínimo que é dar apoio e apresentar compreensão à vítima? Não é a primeira vez que isso acontece. Quantas vezes nós já vimos exames vazados, laudos publicados, gêneros de bebês sendo vendidos para jornais…
Mais uma vez, acho bom relembrar que Klara foi mais atacada e violada DO QUE O ESTUPRADOR. As pessoas ficaram tão preocupadas com o que Klara fez ou deixou de fazer – sempre pensando no melhor para ela e a criança – que o VERDADEIRO MONSTRO foi praticamente esquecido. Se isso não for o suficiente para entender o atual estado da sociedade, eu não sei o que mais será preciso.
Por fim, gostaria de me manifestar em solidariedade a todas as mulheres que sofrem abuso. Eu não consigo imaginar a dor, pavor, trauma e dano que uma situação como essa gera. Eu acredito piamente que esse problema não é apenas de quem sofre abuso, é de todas as mulheres que escutam as histórias e tem medo de andar sozinha na rua, é do governo que tem o dever de nos manter seguras, é da sociedade que deve nos tratar como humanas dignas de nossos direitos.
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