Uma estrela se foi

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Eu me lembro como se fosse ontem da estreia de 13 Reasons Why, do barulho que fez, dos debates que iniciou, do choque de realidade na sociedade que gerou. Muitos pais não queriam que os filhos assistissem. Mesmo assim, não conheço uma pessoa ao meu redor que não tenha visto a primeira temporada.

Na época, o assunto foi tão sério que minha escola cancelou as aulas do dia para falar sobre a série e saúde mental. Foram horas dedicadas a palestras, depoimentos e por último, perguntas e respostas. Lembro de ter passado o dia inteiro com a mesma pergunta em minha cabeça, esperando que em algum momento alguém a respondesse. Ninguém respondeu. Então, quando o momento de perguntar chegou, meu gênio um tanto quanto impaciente não aguentou, e eu fui a primeira a levantar a mão: na série, nenhum dos personagens sabiam que Hannah estava passando por problemas, então como nós podemos identificar o sofrimento em alguém que aparenta estar bem?

A professora ficou em silêncio, aparentando não saber como me responder. Os alunos no auditório pareciam interessados em ouvir a resposta. Momentos depois, a professora elogiou a pergunta, mas também disse que não sabia dar uma resposta específica. Ela disse que nós devemos fazer o básico, como realmente nos importarmos com a tal pergunta cotidiana “como você está?”, além de ajudar quem pede ajuda. Por fim, ela disse que o mais importante é entender que ninguém pode se culpar por não ter enxergado a dor do outro, e que se nós temos a certeza de que fizemos tudo em nosso alcance para ajudar, não há mais nada a se fazer.

Hoje, quando vi a notícia de Cheslie Kryst e os depoimentos feitos por colegas e familiares, minhas emoções voltaram para aquele dia em 2017, no auditório da minha escola. Como identificar a dor em quem aparenta estar bem? Mas dessa vez, essa pergunta é seguida pela frustração de ainda não ter uma resposta concreta. Como é frustrante não ter a resposta de uma pergunta que poderia salvar a vida de alguém. Como minha professora disse, não podemos nos culpar por não enxergar, e nunca saberemos se uma resposta clara para minha pergunta com certeza salvaria a vida de alguém, mas em momentos assim, é difícil pensar em outra coisa.

Saúde mental é um assunto tão sério, nossa mente é tão complexa. Não existem moldes ou fórmulas mágicas: cada pessoa se comporta de maneira destinta, comportamentos extremos e impossíveis de serem colocados em um padrão. Por isso defendo tanto o conhecimento e a ajuda profissional. Se sabemos sobre as inúmeras doenças mentais, fica mais fácil de  identificá-las em nós mesmos e procurar ajuda o quanto antes. Assim, ninguém precisaria chegar ao extremo da situação, da dor. As incertezas são muitas, talvez eu nunca descubra a resposta de minha pergunta e se ela faria alguma diferença concreta em situações como essa, mas eu acredito que o fácil acesso ao conhecimento sobre assunto e ajuda profissional salvariam vidas.

Além disso, esse momento é mais um lembrete de que ninguém é o que aparenta ser. Claro que da boca para fora, nas redes sociais e nas respostas diárias “está tudo bem” com todo mundo, mas quem disse que as fotos no Instagram e as respostas programadas definem a realidade? Cheslie Kryst fez história quando ganhou sua coroa, e agora faz o mundo todo parar e pensar sobre o humano, nossas relações, a genuinidade em nossas intenções, o poder do conhecimento e como as aparências enganam.

Que Deus guie Cheslie Kryst, sua família, amigos e fãs durante esse momento tão triste e delicado. E que todos nós possamos cuidar do nosso bem mais precioso: a saúde.

 

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